Raquel Salgado
Foi amor à primeira vista. Desde 1975, quando pisou em Ilhabela pela primeira vez, ela se apaixonou. Descobriu depois que possuía ancestrais envolvidos com a colonização do litoral. Daí a se aposentar e fixar residência aqui foi um pulo.
Isto aconteceu em 1990 e ela foi morar no Engenho D´Água, ao lado da sede da antiga fazenda que deu origem ao bairro – um engenho de cana de açúcar do século XVIII, patrimônio tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).
Tudo isto acabou levando Maria Luíza Azevedo Bittencourt a escrever um romance histórico.
E é a foto do belo Engenho D´Água que enfeita a capa do livro “Izabel, Isabela, Ilhabela”. A história começa com a jornalista Isabela chegando na Ilha em 2008 para cobrir a Semana de Vela. Sua missão é fazer o perfil de um timoneiro que vai competir.
Já no capítulo seguinte, a história pula para o século XVIII para contar a vida e os amores vividos pela personagem Izabel na casa grande, e os de sua ama de leite na senzala do engenho. Esta personagem, que foi seqüestrada na África grávida e veio para cá num navio negreiro, serve para puxar também toda a trajetória dos negros. Este capítulo começa no ano de 1756, com o personagem Alcebíades admirando Ilhabela do convés de sua nau, a caminho de Paraty. E é ela, Ilhabela, com sua natureza maravilhosa, a personagem principal do livro.
“Eu nunca imaginei que escreveria um”, conta Maria Luíza, 58 anos, uma professora paulistana formada em Língua e Literatura Portuguesa, Brasileira e Inglesa, pelo Mackenzie. “A idéia de fazer este livro surgiu há cerca de dez anos. Foi como uma ordem interior. Um belo dia acordei com a história pronta dentro da minha cabeça e comecei a pesquisar”.
Foram meses de muita pesquisa. Cuidados especiais até com a nomenclatura da época. Será que Alcatrazes e Montão de Trigo tinham estes nomes no início da colonização? Era preciso mostrar todo o intercâmbio cultural entre os povoados então existentes ao longo do litoral, suas conexões com o interior, com a Estrada Real de Minas Gerais, os hábitos e costumes da população.
Tudo teve que ser pesquisado: os animais, os pássaros, a floresta, e o povo: o índio, o português, o negro, e depois o alemão, o japonês, todos colaborando com a miscigenação e dando origem ao povo brasileiro como é hoje.
Segundo a autora, a pesquisa foi um período muito rico. Por meio de seu irmão, o advogado e historiador Francisco Sales Azevedo, a família acabou por descobrir que seus ancestrais, no século XVII, saíram de São Vicente, foram para Guaratinguetá, no Vale do Paraíba, e depois ganharam uma sesmaria em Ilhabela.
“As duas personagens são uma mesma alma, você pode fazer um link com o passado e cada um entende isto como puder”, diz ela, reforçando a frase do físico Albert Einstein na abertura do livro – “...a diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão, por mais persistente que seja”.
Maria Luíza diz esperar que a obra “cumpra seu maior papel, o de ajudar a recuperar a memória histórica da Ilha de São Sebastião, Ilhabela, e assim despertar a consciência e o dever de preservá-la”. Segundo ela, “é preciso resgatar e valorizar a identidade do povo, mostrar a importância e a pujança que nosso litoral teve no Brasil colonial”.
Edição do autor, o livro teve tiragem inicial de mil exemplares. A edição já está quase esgotada, mas quem correr ainda alcança os últimos exemplares no Ponto das Letras, na Vila, e na Livraria Satélite, em São Sebastião. Toda a renda foi destinada à creche Renato Maldonado, que atende 50 crianças no bairro Itaquanduba e é mantida pelo grupo de voluntários Vic.
“Livro não dá dinheiro mas, além da realização pessoal – fiz uma grande viagem para dentro de mim! – agora ele está servindo de material para palestras aos jovens”, conta Maria Luíza que, como boa professora, dá assim vazão à sua preocupação com os adolescentes. “Está sendo muito prazeiroso e estou à disposição das escolas da região”, diz a autora, disponibilizando seu e.mail para contatos: ml.ilhabela@gmail.com
fonte:imprensa livre
domingo, 13 de dezembro de 2009
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